A neuralgia do trigêmeo é um tipo de dor facial que afeta principalmente pessoas entre 50 e 70 anos, em sua maioria, mulheres1. A incidência é de 4-29 por 100.000 pessoas / ano2. É considerada uma das piores dores experimentadas pelo ser humano. O nervo trigêmeo é assim chamado por ter três ramos: o ramo oftálmico, que inerva os olhos e a região frontal; o ramo maxilar, que é responsável pela inervação da região do meio da face, incluindo uma parte do nariz; e o ramo mandibular, que inerva a parte inferior do rosto, abrangendo a mandíbula.

O que causa a neuralgia do trigêmeo?

O nervo trigêmeo é responsável pela percepção da sensibilidade da face e, na neuralgia do trigêmeo, estudos evidenciaram a perda de sua bainha de mielina, que é uma espécie de camada protetora dos nervos. Em um número relevante de pacientes, a desmielinização (essa perda da bainha de mielina) é causada por um conflito neurovascular, ou seja, um vaso sanguíneo comprime o nervo trigêmeo3,4. Um grupo de pacientes pode apresentar a dor mesmo sem ter o conflito neurovascular. Outras causas possíveis são a neuralgia do trigêmeo secundária a tumores na região do ângulo pontocerebelar e a neuralgia secundária à Esclerose Múltipla4.

Como a dor se manifesta?

É uma dor lancinante, geralmente em apenas um dos lados da face, de curta duração, inesperada, semelhante a um choque elétrico. Os ataques podem surgir repentinamente, sem a necessidade de um estímulo tátil na face ou a partir de um toque leve em alguma região do rosto. A duração da dor é de segundos a dois minutos, podendo ocorrer várias vezes ao dia1,2,3,4. Entre os ataques de dor, alguns pacientes podem apresentar dor contínua ou quase contínua, mais leve, no mesmo local da dor mais forte4.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico envolve não apenas o relato do paciente, mas também o exame físico, a experiência clínica e a interpretação dos resultados dos exames de imagem. Uma ressonância magnética do encéfalo faz parte da investigação diagnóstica e deve ser realizada4.Existem variações de outros tipos de dor que podem confundir muito o diagnóstico. Pacientes com suspeita de neuralgia do trigêmeo devem ser avaliados quanto a presença de neuralgia do nervo glossofaríngeo, hemicrania paroxística, cefaleia em salvas, neuropatia trigeminal pós-traumática, neuropatia trigeminal decorrente de hérpes zoster, dentre outras condições4. Alterações odontológicas também podem confundir o diagnóstico e devem ser afastadas, como fratura de dente, cárie, pulpite, além de distúrbios da articulação temporomandibular2.

Como é o tratamento da neuralgia do trigêmeo?

A base do tratamento é a prevenção dos ataques de dor. O tratamento farmacológico de primeira linha é feito com medicamentos anticonvulsivantes, sendo a carbamazepina ou a oxcarbazepina as opções mais indicadas inicialmente. Outros remédios que podem ser utilizados são: lamotrigina, gabapentina ou pregabalina, baclofeno, topiramato, duloxetina e aplicação de toxina botulínica1,2,4. Em geral, não há medicamento específico para ser utilizado no momento da crise, tendo em vista a curta duração da mesma2.Pacientes que não têm a melhora esperada com o tratamento medicamentoso ou que são intolerantes aos fármacos em decorrência dos efeitos colaterais, podem ser tratados com os chamados procedimentos intervencionistas com boa taxa de sucesso. Algumas opções de tratamentos intervencionistas disponíveis em nosso serviço são:
  • Bloqueio Anestésico do Gânglio de Gasser / Nervo Trigêmeo
  • Rizotomia por Radiofrequência Trigeminal
  • Microcompressão do Gânglio de Gasser com Balão
  • Descompressão Neurovascular do Trigêmeo
Além desses procedimentos intervencionistas, há a Estimulação Magnética Transcraniana, um tratamento de neuromodulação mais recente, não invasivo, realizado em consultório.A escolha do melhor procedimento deve ser feita de forma individualizada e em conjunto pelo médico, pelo paciente e sua família.
Referência Bibliográfica:
  1. Grossmann E, Siqueira JTT, Siqueira SRD. Neuralgias Craniofaciais e Cefaleias Trigeminoautonômicas. In: Tratado de Dor da SBED. Editores Irimar de Paula Posso et al. 1a ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017. Volume 1, cap. 101, pp. 1313-1326. 2. Lambru G, Zakrzewska J, Matharu M. Trigeminal neuralgia: a practical guide. Pract Neurol. 2021; 9:practneurol-2020-002782. 3. Maarbjerg S, Di Stefano G, Bendtsen L, Cruccu G. Trigeminal neuralgia – diagnosis and treatment. Cephalalgia. 2017;37(7):648-657. 4. Bendtsen L, Zakrzewska JM, Heinskou TB, Hodaie M, Leal PRL, Nurmikko T, Obermann M, Cruccu G, Maarbjerg S. Advances in diagnosis, classification, pathophysiology, and management of trigeminal neuralgia. Lancet Neurol. 2020;19(9):784-796.

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