O termo paralisia cerebral não é o nome de uma doença em si, mas sim uma denominação que engloba diversos sintomas que podem ter causas diferentes. O termo foi utilizado pela primeira vez pelo ortopedista inglês William Little em 1843. Desde então, a definição sofreu diversas alterações, sendo que a mais atual foi criada por um grupo internacional de especialistas que definiu a como um grupo de distúrbios permanentes, mas não imutáveis do movimento e / ou da postura, decorrente de uma lesão ou anormalidade do cérebro em desenvolvimento ou imaturo2. Em outras palavras, a paralisia cerebral é um conjunto de alterações neurológicas que afetam o movimento e a postura a partir de uma lesão em alguma região do cérebro. A incidência média é estimada entre 1,5 e 3,0 por 1000 nascidos vivos em estudos realizados na Europa3. No Brasil, poucos estudos epidemiológicos existem. Estima-se prevalência de 1,37 a cada 1000 habitantes da cidade Aracaju (SE)4.

O que causa a paralisia cerebral?

Várias condições podem causar danos ao cérebro em um estágio inicial de desenvolvimento. Os fatores de risco podem ser separados em quatro categorias5:

Pré-concepção: que diz respeito às condições de vida e saúde da mãe, como doenças maternas, uso de drogas, desnutrição, infecções, problemas de infertilidade, abortos espontâneos e fatores sócio-econômicos;

Pré-natal: que está relacionado ao curso da gravidez, como sangramento vaginal, anormalidades da placenta, infecções intrauterinas, alterações do volume do líquido amniótico, gestação múltipla e doenças maternas durante a gestação;

Parto: parto prematuro (antes de 37 semanas de gestação), parto pós-termo (após 42 semanas de gestação), trabalho de parto prolongado, necessidade de uso de fórceps, asfixia e síndrome de aspiração de mecônio.

Período neonatal: síndrome da angústia respiratória neonatal, necessidade de suporte ventilatório artificial, infecções (principalmente meningite), bilirrubina alta, hipoglicemia, hemorragias cerebrais e convulsão neonatal.

Um dos principais fatores de risco é a prematuridade. Em geral, quanto mais curta a gravidez, mais graves são as alterações geradas. O peso ao nascer em bebês prematuros é outro fator de risco.


 

Quais são os sintomas e os tipos de paralisia cerebral que existem?

As diferenças de uma pessoa com paralisia cerebral para outra variam muito. Algumas podem andar; outros precisam de ajuda. Algumas pessoas apresentam inteligência normal ou quase normal, enquanto outras têm deficiência intelectual. Com relação ao aspecto motor (ou seja, os movimentos), a paralisia cerebral pode afetar apenas um lado do corpo (unilateral ou hemiplegia), ou os dois lados (bilateral), ou ainda afetar mais as pernas (diplegia), ou os braços e as pernas (quadriplegia ou tetraplegia). Epilepsia, cegueira, surdez, problemas na fala, distúrbios do comportamento, alterações na coluna vertebral como cifose ou escoliose ou deformidade nos pés também podem estar presentes6.

Ao longo dos anos, várias maneiras foram desenvolvidas para classificar as pessoas com paralisia cerebral. Atualmente, consideramos quatro tipos: a espástica, a discinética, a atáxica e a mista6. O indivíduo é categorizado de acordo com característica clínica mais marcante. Conhecer e definir o tipo de paralisia cerebral é importante para o planejamento do tratamento e acompanhamento ao longo da vida. Vamos falar um pouco sobre as principais características de cada um destes tipos:

  • Paralisia Cerebral do tipo espástica: é caracterizada pelo aumento do tônus muscular (espasticidade), podendo acometer um lado ou os dois lados do corpo. É o tipo de paralisia cerebral mais frequente.
  • Paralisia Cerebral do tipo discinética: há presença de movimentos involuntários, não controlados e repetitivos, associados em maior ou menor grau à espasticidade. Neste grupo, o paciente pode apresentar movimentos involuntários de dois tipos: distonia e coreoatetose.
  • Paralisia Cerebral do tipo atáxica: caracterizada pela perda de coordenação motora e tremores. Neste tipo, o tônus muscular geralmente é diminuído.
  • Paralisia Cerebral mista: presença de sintomas de mais de um tipo de paralisia cerebral

Como saber o nível de comprometimento que o paciente se encontra?

Cada pessoa com paralisia cerebral tem suas particularidades com relação ao grau de incapacidade. Depende do tipo de lesão cerebral e do momento em que mesma ocorreu (mais precoce no desenvolvimento ou mais tardia), uma pessoa pode requerer cuidado constante, enquanto outra pode demandar pouca assistência.

Existem escalas específicas para avaliar a gravidade das alterações motoras nas crianças com paralisia cerebral. A mais conhecida e utilizada é o Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS – Gross Motor Function Classification System). A avaliação do nível de incapacidade motora de um paciente, permite a obtenção de informações úteis para o acompanhamento terapêutico.

 

Como deve ser o tratamento?

A lesão no cérebro que ocasionou a paralisia cerebral é permanente e ela por si só não vai melhorar ou piorar ao longo da vida. Por outro lado, as dificuldades motoras, cognitivas ou de comunicação causadas são passíveis de controle por meio de tratamentos, que podem ajudar a melhorar a independência e a inclusão, promovendo, assim, uma melhor qualidade de vida para o paciente e para os familiares.

Pessoas com paralisia cerebral necessitam de uma rede de profissionais em sintonia, a fim de alcançar os objetivos terapêuticos propostos para cada paciente. Esta abordagem abrangente inclui tratamentos diversificados a partir do uso de medicamentos, realização de neurocirurgia, cirurgia ortopédica, sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia.

Os tratamentos para os diferentes sintomas de pessoas com paralisia cerebral têm aumentado em variedade e muitas pesquisas científicas comprovam a eficácia. Os principais são atividade física, treino em esteira (com suporte parcial de peso ou não), exercícios de fortalecimento, programas em casa (telerreabilitação), realidade virtual, treinamento direcionado a tarefa, treinamento bimanual, terapia de contensão induzida, equoterapia, gesso seriado e treinamento de mobilidade. Estimulação Magnética Transcraniana e Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua são técnicas de estimulação cerebral não invasiva que tem tido crescente aplicação em diversas doenças, inclusive na reabilitação de pacientes com paralisia cerebral.

O tratamento medicamentoso se dá, inicialmente, com o objetivo de tratar a espasticidade. Para isso, algumas medicações podem ser utilizadas, como: Baclofeno, Tizanidina, Benzodiazepínicos (Diazepam, Clonazepam) e Gabapentina. Como recurso adicional, a aplicação de toxina botulínica surge como opção, em especial para situações de espasticidade mais localizada. Esta intervenção pode ser utilizada a partir dos dois anos de idade e é mais eficaz quando usada em conjunto com a Fisioterapia.

Do ponto de vista da Neurocirurgia Funcional, para casos em que a espasticidade ou a distonia não estejam respondendo suficientemente aos tratamentos anteriormente mencionados, alguns procedimentos adicionais podem ser propostos, a saber:

  • Bloqueios Neurolíticos
  • Implante Bomba de Infusão Intratecal com Baclofeno
  • Implante de Bomba de Infusão com Cateter Intraventricular
  • Rizotomia Dorsal Seletiva
  • Implante de Eletrodo Cerebral Profundo

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